terça-feira, 12 de abril de 2016

  1. Sempre fui do tipo que luta. Você sabe disso. Continuo na batalha até que o último soldado do meu último exército caia em exaustão, e mesmo depois disso ainda tenho uma pequena esperança de que as coisas se resolvam. Não acredito em guerras. Dois lados que lutam contra algo normalmente estão apenas cruzando os dedos para que o outro erga bandeira branca. Sei que sempre foi assim entre nós – eu gritava e escutava seus berros, torcendo pelo momento em que você perceberia que minha raiva era uma maneira de pedir socorro. Mas você nunca soube. E continuou gritando comigo como se a voz que saísse do meu corpo fosse minha, e continuou machucando minha alma como se você fosse uma bala de canhão e eu um muro de plástico, pronto para ser derrubado.
Posso contar um segredo?
Você me derrubou.
Acho que até conseguiria escapar dessa gaiola suja e cinzenta, se não fosse uma pequena coisa que me impede toda vez que os pássaros assobiam e me chamam para voar com eles: não tenho mais vontade. Não é a coisa mais terrível que você já me ouviu dizer? Essa é a verdade mais horrorosa que já tive coragem de contar a alguém. Se me dessem escolha, eu continuaria aqui dentro, mesmo que a porta estivesse aberta e tudo mais. Existe algo tão belo e horrível ao mesmo tempo, em estar preso em um lugar por conta própria. Estou me machucando, mas, pelo menos, dessa vez sei de onde os tiros vêm: de mim mesmo. Estou sozinho porque rejeito o mundo, não o contrário. Meus passos não possuem companhia, e isso é tão libertador quanto um abrir de asas em meio ao abismo. Você pensou que eu jamais pudesse me reerguer, e está certo. Não só não posso, como também não quero. Aprendi a amar o chão e toda a segurança que ele me provém. A beleza de estar no fundo do poço é que não há como ir mais fundo. Cheguei ao limite.
Você conseguiu. E isso é fantástico.
Com amor, L.

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